Decadence avec Elegance

"Faz tatuagem em mim....faz você em mim"

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Nina Simone


Cantora de jazz e soul, famosa pelas suas músicas de direitos civis e interpretações de gospels, baladas e canções de George Gershwin. Uma das grandes referências do jazz, a cantora Nina Simone serviu de inspiração para muita gente - vide Norah Jones, o mais novo ícone jazzy da música pop, que não titubieia ao mencionar a cantora como uma de suas principais influências.Nos últimos anos, a cantora veio se sustentando com o slogan "A única diva viva do Jazz em atividade", ou algo nesse gênero. Encarar auto-referências de uma maneira tão desencucada nunca foi problemas para Nina Simone, que tornou-se mundialmente conhecida por seu temperamento forte e seu posicionamento quase sempre controverso. Um mito da música, defensora dos direitos civis dos Estados Unidos e absolutamente contrária á discriminação racial, Simone não só contribuiu para o compêndio musical no mundo, como também constituiu figura importante no cenário político do seu país de origem.
Eunice Kathleen Waymon(seu nome real) nasceu na cidade de Tryon, na Carolina do Norte, EUA, no dia 21 de fevereiro de 1933. Sexta filha de oito irmãos, Simone é mais um daqueles casos nos quais a competência artística é mais forte do que a própria falta de condição financeira-a mãe, empregada doméstica, e o pai, mestre de obras. Menina-prodígio que era, aos quatro anos de idade já tocava piano e cantava ao lado das quatro irmãs no coro da Igreja Metodista dirigida pela mãe.
Aos dez anos de idade (1943), apresentou-se pela primeira vez, ao piano, numa biblioteca pública da cidade. Foi nesta apresentação que Simone seria introduzida á sensação ambígua que viria a sofrer, anos a fio, por toda sua carreira: aplausos e racismo caminhanhando juntos, de mãos dadas, inexplicável. Persistente em seus sonhos, Simone recebeu ajuda de seu professor de música e pôde dar continuidade aos estudos.
O Talento peculiar valeu à cantora uma vaga na prestigiosa Escola de Música de Julliard, em Nova York, onde estudou piano. Sua educação artística já foi em si, um pontapé inicial para sua determinação destacada no meio musical em prol das minorias-pode-se chamar de "milagre" o fato de Simone ter conseguido ingressar no conservatório de música, 1) por ser negra, 2) por ser de família simples, 3)por ser acima de tudo, mulher. O destino fazia sua parte - o resto coube à ela. Que não se decepcionou.
Conciliando sonho e realidade, Simone abdicou da sua dedicação integral à sua carreira de pianista clássica para cantar em um clube de Atlantic City - álguem precisava ajudar a sustentar a casa. Graçás a este evento, a cantora não ficou enfurnada (para nosso delírio) nas capas de vinil de "discos para iniciados", colocou o vozeirão no jazz e adquiriu seu célebre nome artístico Nina, que vem do castellano "niña", a pequena, e Simone, inspirada na atriz francesa Simone Signoret.

Em 1959, grava seus primeiros discos para o selo "Bethlehem",mostrando seu talento como cantora, compositora e pianista. Artista completa que era, seus primeiros trabalhos já foram responsáveis pela consolidação de clássicos inesquecíveis: a interpretação de "I Love you Porgy" de Ira e George Gershwin, imortalizou-se em sua voz e fez com que vendesse mais de um milhão de cópias do seu primeiro disco "Little Girl Blue"; as músicas "Ne me qui te pas" e "My baby justa cares for me" são hoje, difíceis de serem imaginadas na voz de qualquer outra intérprete.
Do coro da Igreja, passando pela educação em música clássica, culminando as noitadas em bares e clubes, o repertório de Nina Simone não poderia ser mais farto: jazz, gospel, blues, soul,música clássica e canções populares ser misturaram de uma forma bricabraque musical cujo amálgama era, sem sombra de dúvida, seus estilos e voz inconfundíveis. Seu jeito inconfundível de tocar piano, por exemplo, influenciado pelo mestre do swing, Duke Ellington, permeia todas as suas canções: ela migra, com destreza, de silêncios e pausas para o romptante de arranjos fortes, ásperos, elegantemente "desarrumados", jogados.

A controvérsia está posta até mesmo em sua aversão ao título "musa do jazz" É o título que todo branco concede, piedosamente, aos cantores negros - diria ela. Talvez por isto , Nina Simome tenha se aventurado a experimentar de tudo um pouco, provando e remodelando os mais variados estilos musicais: gravou "Suzanne, de Leonanrd Cohen" "Here Comes the Sun", dos Beatles; "My Sweet Lord", de George Harrison, além de ter gravado, em 1990, com Maria Bethânia.
Em paralelo à carreira musical, Nina Simome colocou-se à serviço do povo americano, utilizando a notoriedade que conseguiu com a música para brigar por alguns direitos universais. Em 1963, por exemplo, compõe "Mississippi Goddamn", uma canção-protesto contra a opressiva situação dos negros norte-americanos nos Estados Unidos (nota: a canção foi composta depois do célebre evento numa escola para negros do Alabama que foi bombardeada).
Surgiram outras canções de protesto como "Four Women!, pelos direitos femininos, cuja veiculação foi proibida nas emissoras de rádio de Filadelfia e nos Estados Unidos; "Backlash Blues", poema de Langston Hughes musicado; e "Young, gifted and Black", canção inspirada no Movimento Panteras Negras (do qual era militante), e que acabou virando hino afroamericano.

Em 1969, farta do racismo nos EUA, Nina renunciou sua nacionalidade em respeito ao assassinato do lider pacifista Martín Luther King. Em 1974, muda-se para Barbados e, durante os anos seguintes, viveu em vários lugares - Suiça, Paris, Holanda- até, acomodar-se na França, onde passou boa parte de sua vida.
Já em 1984, a canção-tema de seu primeiro disco, "My Baby Just Cares For Me", foi resgatada graças ao comercial de um perfume da Chanel. Em 1989, publicou sua primeira e única auto-biografia - "I Put a Spell on You"-, que foi traduzida para vários idiomas. Nina deixou uma filha, Lisa Celeste, que atua na Broadway, mas que é conhecida por Lisa Simome.
Nina Simone morreu na França aos 70 anos, em 21 de abril de 2003. A Voz rasgada e de timbre áspero certamente deve ter tirado o sono tanto dos fãs quanto dos empresários de selos gravadoras: faleceu em sua casa e em plena atividade.

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